Teatro Oficina: a arte e a cultura como infraestruturas da vida!

A apresentação de Paranoia do Teatro Oficina Uzyna Uzona encerrou a noite de sábado do 32°Inverno Cultural UFSJ e tornou-se um marco na história do festival de artes integradas.
A abertura foi incendiária, iluminada pelo fogo da tocha acesa pelo coordenador de área, Cláudio Alberto dos Santos, que usou deste meio para saudar o Oficina e sua importância para a história teatral brasileira. Invocando as entidades de proteção do teatro, ele declamou: viva o Teatro Oficina! Viva Zé Celso! Mais que um grupo, o Teatro Oficina é um movimento que coloca em cena a arte e a cultura como infraestruturas da vida!
A caligrafista Sonia Ushiyama, escreveu o nome do espetáculo de forma performática, levando o público ao encontro de Marcelo Drummond, que encenou 20 poemas do livro de Roberto Piva ao som do pianista Chicão, com as projeções imagéticas de Cecília Lucchesi e direção de câmera de Igor Marotti.
O ator não estava só: a trilha sonora, a câmera e a fotografia eram como outras personagens, que feitas ao vivo pelos artistas responsáveis, mostraram um novo jeito de explorar o fazer teatral. Foi uma apresentação coletiva, na qual todos os artistas envolvidos performaram juntos mesmo que não estivessem em cena. Eles reinventaram seu trabalho ao trazer a tecnologia para perto, não de forma futurística mas sim analógica, como pede o texto.
Marcelo, levou o interlocutor de forma catártica para dentro do cenário libidinoso proposto por Piva, num ritmo de maratona digno da grande São Paulo que não para. Ele explorou todo o espaço disponível dentro e fora do Oficina, levando o público literalmente para a rua. A passagem de um poema para outro era, muitas vezes, imperceptível e por outras, cheia de nuances, causando em quem assiste a sensação veloz da capital, sendo engolido pelo tempo ou pela falta dele.
‘’Existe amor em SP e o nome é Teatro Oficina” foi um dos comentários feitos por espectadores, através do chat simultâneo. O texto, que retrata a parte mais boêmia e erótica da década de 60 paulistana, foi comentado pela atriz e espectadora Wallie Ruy: “Paranoia leva o público para um não lugar e vem de quando São Paulo estava se tornando a cidade cruel que hoje é”. Ela compartilha, que assistir à peça lhe leva para uma catarse intensa: “A entidade da embriaguez presente no texto traz um lugar de se permitir, de deságue, vertigem e de uma paranoia tesuda que adentra a gente’’.
Cláudio Alberto, observa que a Companhia tem em seu movimento estético, a ascendência da antropofagia proposta na Semana de Arte Moderna (ou Semana de 22), que consiste em “engolir e ruminar’’ as influências artísticas já existentes, e a partir disso, criar algo novo e brasileiro. Tal característica, criou um verdadeiro show em meio às adversidades da pandemia e dos novos desafios do teatro online. O Teatro Oficina esteve em sintonia completa com o livro de Piva, que é vanguardista mesmo depois de 6 décadas do seu lançamento, e mostrou intimidade com a obra levando o público a uma experiência diferenciada.
Não deixe de assistir a transmissão da peça disponível no Youtube e ler a entrevista exclusiva que o ator Marcelo Drummond concedeu à Assessoria de Comunicação do Inverno Cultural, contando mais sobre o espetáculo e a sua relação com o teatro.
Texto: Luiza Cassiano
Edição: Juliana Millen