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Domingo foi dia de cortejo! Dia de Congado de Dona Maria!

Domingo, dia 31, o congado da Associação Moçambique e Catopé de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito seguiu em cortejo do bairro São Dimas passando pela Igreja do Carmo até a Igreja do Rosário. Em louvação a Nossa Senhora do Rosário, e saudando a grande e atual Rainha Conga Evania Sodré, o festejo contou com a presença da gloriosa dona Maria Auxiliadora Mártir, filha da figura histórica Maria da Glória Mártir, que foi homenageada por um estandarte.

 

Maria Auxiliadora é uma das poucas capitãs de congado da região, lugar tão difícil de ser comandado por mulheres.

 

A presidente do grupo, Mayara Mascarenhas, ressaltou a importância da participação do congado no Inverno Cultural: “Para o congado estar aqui no centro de São João, é uma resistência. A gente tem a questão aqui na igreja do centro que o congado não pode entrar, então é uma afirmação também da existência dessa guarda lá no bairro São Dimas, do zelo e da necessidade também da atenção das pessoas, o entendimento para isso não acabar.”

 


Rodolfo Rodrigues, que ocupa a posição de terceiro capitão no grupo, conta com os olhos de tristeza que a igreja dos negros é a de nossa Senhora do Rosário, porque ela é a igreja que financiava as revoltas dos escravos e que a nossa Senhora do Rosario é a representante da libertação, junto com o Santa Efigênia, São Benedito, Santo Antônio de Categeró, São Jorge, São Sebastião e Santo Antônio, que são os Santos das festividades populares. “Esses Santos, eles estão vinculados à comunidade e a nossa Senhora do Rosário, em especial é a santa que os escravos tinham devoção, porque era quando os escravos tinham permissão de poder fazer festividades, só que aqui, infelizmente, por preconceito por parte da paróquia, por preconceito por parte da sociedade de São João del-Rei, o congado não pode entrar na igreja, que foi construída pelos próprios escravos. A igreja Nossa Senhora do Rosário foi feita pelos escravos como maior parte de todas as igrejas e todos os patrimônios históricos desta cidade. Mas ainda assim, o congado não pode entrar dentro dessa igreja”, lamenta Rodolfo.

 

Ele conta ainda que, quando o falecido padre Raimundo, que era um padre  congadeiro ainda era vivo, ele fazia a missa inculturada e na época podia se entrar dentro da igreja. Após a morte dele não pudemos mais. E finaliza: “É muito importante pra gente estar no Inverno Cultural de novo, principalmente esse, que está homenageando a pessoa da Elza Soares, que é uma mulher negra que vem da periferia!”

 

No final do trajeto, o grupo então se ajoelhou aos pés da igreja do Rosário e cantou a última canção: 

 

Chegou o povo de candongue
Aos pés da igreja do Rosário
São João del Rei aqui não deixa
Preto velho entrar lá

Mas os nego tem que entrar
Oh seu padre abre a porta
Deixa o rosário entrar
Nego velho quer entrar 

 

Texto: Maria Mariana Rocha Sobrinho

Edição: Juliana Millen

Fotos: Daniel Arantes